Ontem fiz uma brincadeira em minhas redes sociais, lembrando da relação de amor e ódio que as pessoas têm com o coentro. Por esta mesma razão, o engajamento das postagens não me surpreenderam e recebi muitos comentários, felizmente todos muito educados. Confesso que não gosto do sabor e do cheiro, assim como não gosto de cominho e de comida japonesa. O coentro é uma folha de gosto bastante peculiar e intenso, que uns adoram e outros odeiam – é raro encontrar alguém indiferente a ele. Tempera os pratos nordestinos, amazônicos, peruanos, chilenos, mexicanos, médio-orientais e indianos. Mas essa mobilização por um gosto particular me despertou atenção e decidi pesquisar sobre o assunto. Afinal, por que tem gente que odeia tanto o coentro?
Os coentrófobos modernos tendem a comparar o seu sabor ao sabão, e não a insetos. Mas ambas as associações fazem sentido quimicamente. Descobri que, segundo especialistas da clínica americana RSP Nutrition, o amor pelo coentro é genético, uma vez que entre as pessoas mais sensíveis, os genes sensoriais são mais aguçados, fazendo com que elas detectem o famoso “sabor de sabonete”, mencionado entre aqueles que não gostam do alimento. E, na mesma linha, publicação da revista Nature, conduzida pela empresa de genética 23andMe, aponta que a associação do “cheiro e gosto de sabão” vem do olfato. O gene chamado de OR6A2 faz com que os indivíduos sejam mais sensíveis a aldeídos, que são compostos químicos presentes no coentro. Aldeídos iguais ou semelhantes são também encontrados em sabões e loções, e em insetos da família dos percevejos.
Já a Universidade de Oxford revela que o termo inglês “coriander” (como o português coentro) seria derivado da palavra grega para percevejo, que o aroma de coentro “já foi comparado ao cheiro de roupas de cama infestadas por percevejos”, e que “os europeus com frequência têm dificuldade em superar sua aversão inicial ao seu cheiro”.
Para o neurocientista Jay Gottfried, da Universidade Northwestern que estuda como o cérebro percebe os odores, a polêmica em torno do coentro reflete a importância primitiva do cheiro e do paladar na sobrevivência e a constante atualização do cérebro em seu banco de dados de experiências. Quando provamos uma comida, , o cérebro busca na memória um padrão de experiência anterior à qual aquele sabor pertence. Mas, ao mesmo tempo, a mente atualiza e amplia o seu conjunto de padrões, e isso pode levar a mudanças na forma como avaliamos se uma comida é desejável ou não.
Concluindo, o importante é saber que há espaço para todos.
Nessa guerra que alimenta tantas paixões, respeito os argumentos dos defensores dos dois lados. Por via das dúvidas, quando for fazer moqueca, prepare duas panelas, uma com e uma sem o coentro da discórdia. Ou sirva a erva separadadamente. Garanta que todos se sentem à mesa, recuperem o diálogo, exerçam suas preferências num estado democrático de direito e que os convidados se respeitem e acreditem que é possível viver com as diferenças .